07/11/2009

Um bom malandro... passeando pelos jardins da Fundação Calouste Gulbenkian - Lisboa (Portugal)

Estátua de Calouste Gulbenkian
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Muitos anos atrás, bastante jovem ainda, quando pela primeira vez visitei a Fundação Calouste Gulbenkian - instituição esta, fundada a partir da doação da vasta herança de objectos de arte coleccionadas durante toda a sua vida, pelo mecenas Calouste Gulbenkian, (1869-1955) - empresário de origem arménia, naturalizado inglês, e radicado em Portugal.
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Não! Nessa altura, eu nada sabia sobre Gulbenkian, sobre esta importante Fundação, que muito contribuiu para o fomento e expansão da cultura em Portugal. Também não sabia sequer da existência dos magníficos jardins que a envolvem...
Aqui vim certo dia... (meio-perdido), movido somente por uma curiosidade: conhecer as famosas jóias do mestre vidreiro e joalheiro francês René Lalique, (1860-1945) - reconhecido pelas suas criações em Art Noveau e Art Deco.
Tomei conhecimento deste fabuloso tesouro, a partir da leitura do livro, «Crónica dos Bons Malandros», do escritor e jornalista Mário Zambujal - que numa trama ficcionada, relata a história de uma quadrilha, liderada por Renato "O Pacífico", e que a dado momento é aliciada por um italiano misterioso que os desafia a roubarem as jóias de Lalique expostas no museu Gulbenkian...
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Bom! E nesse tal dia, (já distante), chegado à exposição do tão afamado tesouro... escusado será de dizer, que logo fiquei perdidamente apaixonado pelas jóias... e colado fiquei às vitrinas que as guardavam, completamente hipnotizado pelo brilho das safiras, pratas, marfins e toda a espécie de predarias preciosas. Imaginei-me até, um dos personagens do livro, (um bom malandro), estudando a melhor forma de dali sair com uma "pequena recordação". Mas... acho que não estava no melhor dos meus dias, faltava-me a inspiração... e assim sendo, o melhor que teria a fazer, e já que nem fotos teria direito, fui saindo de mansinho, direitinho a uma outra jóia desta Fundação: os jardins da Gulbenkian, construídos nos anos sessenta, segundo projectos dos arquitectos Viana Barreto e Gonçalo Ribeiro Teles, sendo estes, dos mais emblemáticos do movimento moderno em Portugal e uma referência para a arquitectura paisagística portuguesa.
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Desde essa época, passei a visitar estes jardins, sempre que me é possível, nas vindas a Lisboa, elegendo-os, como um dos meus locais favoritos da Capital - jóia rara- no coração da cidade, cheia de belos recantos refrescantes, que se escondem uns dos outros, e que nos convidam à introspecção, ao relaxamento do corpo e da mente...
E é neste éden, feito de percursos quase secretos, ladeados de espessa vegetação, árvores frondosas e pequenos riachos murmurantes que podemos observar e escutar o chilrear de algumas espécies de aves silvestres, como o periquito-de-colar, a toutinegra-de-barrete-preto, o melro, o pardal ou o verdilhão...
Na densa vegetação e junto aos percursos de água, podem ainda ser vistas, as tímidas galinhas d'água, sendo este um dos melhores locais de Lisboa para a sua observação.
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E já que o "bom malandro", não tem fotos das jóias de Lalique para mostrar, deixo-vos com as imagens das não menos valiosas jóias que encontrei nestes paradisíacos jardins da Gulbenkian, e que mais uma vez visitei, alguns dias atrás... estou tentado até, em dizer, que a mais rara (para mim), tenha sido um pé de azevinho, que vislumbrei entre a densa vegetação - ao que consta esta espécie de arbusto, de nome cientifico, (ilex aquifolium), encontra-se em vias de extinção no nosso país, devido ao seu corte desenfreado a cada época natalícia, e como tal, é agora espécie protegida por lei...
A título de curiosidade, e sobretudo para aqueles que desconhecem o facto, saliento que esta é uma espécie dióica, (plantas femininas e masculinas distintas), sendo que, aquela que as pessoas cortam é a feminina, a que contém as bagas vermelhas. Desta forma ficam as masculinas, não sendo possível então a sua fecundação.
Percebi finalmente, a razão de não mais ter visto azevinho, desde os meus tempos de criança. Só por isso, já valeu a pena ter passado mais uma vez pelos jardins da Gulbenkian...
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Texto e fotos: Walter
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Todas as informações sobre a Fundação Calouste Gulbenkian em http://www.gulbenkian.pt/
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31/10/2009

Pão quentinho com manteiga... na casa da mamãe

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Hoje estive de visita à mamãe, honrando meu compromisso semanal. Ela mora na aldeia de Alcogulhe, a escassos klms da cidade de Leiria. Ainda bem que cheguei cedo... pois, há anos que não assistia a um daqueles momentos, que ela considera como a sua terapia - do corpo e da alma: a cozedura do pão - uma espécie de ritual mágico, quase semanal, pleno de arte, amor e alguma ciência - como gosta de frisar orgulhosamente.
Hoje não houve lugar para os queixumes das muitas dores que se lhe alastram pelo corpo, nem para o "diz-que-disse", nem para as tricas e mexericos da aldeia.
Colocou as mãos na massa, enquanto eu, e a seu pedido, ia preparando a lenha, com que ela aqueceria o forno. Ainda propus, eu mesmo acender a fogueira, mas ela, sabendo bem da minha inaptidão para estas coisas, recusou categoricamente - « Não, não... isso é comigo, deixo-te apenas retirar o pão do forno... »
Pão a pão, tendidos na tigela, estendia-os na pá enfarinhada, fazendo-os entrar no forno quente, com perícia e precisão... e eu ali fiquei, ouvindo todos os detalhes do processo, enquanto deitava o olhar ao alourar do pão...
Entretanto, o pão cheiroso e estaladiço, estava pronto a ser retirado, e tal como me tinha prometido, lá fui retirando do forno, (meio nervoso), os pães... mas sempre com reparos e indicações.
Fiquei satisfeito por não ter deixado cair nenhum ao chão, e a minha mãe deve ter respirado de alívio...
Setenta e cinco anos de idade, tem a mamãe Laurinda, recheados de muitas alegrias, algumas tristezas e muitas fornadas de pão...
Escusado será de dizer, que o meu almoço, se ficou por um bom naco de pão quentinho e estaladiço com manteiga a derreter na boca.
Estava na hora de regressar a Leiria, e na mochila já todos adivinharam o que a mamãe lá colocou...
Pois... deixei-vos com água na boca, não foi?
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Texto e fotografia: Walter

26/10/2009

Sesimbra... do nascer ao pôr-do-sol - (Portugal)

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Até já... Sesimbra...!
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Conheces-me bem Sesimbra... sabes da minha fidelidade...!
A ti retorno vezes sem conta, e não importa, que às vezes, somente seja, apenas por um dia...
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Sou teu caminheiro, pastor peregrino, nas serras e montes que te enfeitam o mar...
Tens-me cativo no mais alto dos teus promontórios... libertas-me... dás-me alma e asas de gaivota e eu voo...
Destemido, elevo-me sobre a tua baía, e em círculos dançantes, vou espreitando a tua vida... feita de Glória e tanta dor...
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Do alto do meu promontório, abro minhas asas sem fim... abraço-te junto ao peito, e beijo teu rosto moreno pingado de pérolas de sal.
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Gosto de ti moura encantada, e de ti nunca me despeço... será sempre um ATÉ JÁ... Sesimbra!
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Texto e fotografia: Walter

25/10/2009

17/10/2009

A arca dos meus pequenos tesouros

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Acho que não me agrada a expressão: «baú das minhas memórias» - talvez, a associe (erradamente), a mofo, a naftalina, - pedaços de Tempo apodrecidos - histórias de vidas que já não respiram...
Eu prefiro chamar-lhe, «arca dos meus pequenos tesouros». Tenho uma, e agrada-me que não cheire a mofo e naftalina - talvez porque, o(s) pedaço(s) de Tempo(s) que ali guardo, cubram apenas o seu fundo, ou ainda, porque tristezas ali não hajam, somente alegrias...
Mas... sinceramente, não tenho pressa nenhuma... de a ver cheia.
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Na arca dos meus pequenos tesouros, não há ouros, nem pratarias, há cartas, muitas cartas... onde a palavra saudade é infinitamente repetida, que em barcos de papel, muito mar navegaram, até às minhas mãos aportarem...
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Gosto de pedir licença ao Tempo, que em minha arca habita, que me empreste, apenas por breves instantes, todos os beijos ainda molhados, todos os sonhos, todos os rostos iluminados, todas as terras que já vi, todos os abraços muito muito apertados...
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De Tempos-a-Tempos, sabe-me bem, acariciar as , (ainda), ténues rugas da pele do meu Tempo...
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Texto e fotografia: Walter

11/10/2009

A poesia... na pedra lavrada - Leiria - Portugal

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Detalhes...
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Mil vezes passamos... na mesma rua, praça, jardim... achando que tudo já conhecemos, nada mais havendo para descobrir...
Olhamos e retemos a globalidade das coisas. Teimamos em não perder tempo com os detalhes...
Mas eles estão lá... em toda a sua beleza etérea... reclamando um olhar mais atento, um pouco mais detalhado - fazendo parte de um todo - detalhes pensados, (célula a célula), talhados a golpes de cinzel, pelos pulsos vigorosos de artífices, que na pedra deixaram lavrados, (com alma), capítulos da História - marcas de um tempo - ou simplesmente poesia... para os nossos olhos.
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Texto e fotografia: Walter