16/10/2011

.
.
.

.
.
.
.
.

O BAIRRO DA MINHA INFÂNCIA
.
.
.
.
Não são as criaturas que morrem.
.
É o inverso:
só morrem as coisas.
.
As criaturas não morrem
porque a si mesmas se fazem.
.
E quem de si nasce
à eternidade se condena.
.
Uma poeira de túmulo
me sufoca o passado
sempre que visito o meu velho bairro.
.
A casa morreu no lugar onde nasci:
a minha infância não tem mais onde dormir.
.
Mas eis que,
de um qualquer pátio,
me chegam silvestres risos
de meninos brincando.
.
Riem e soletram
as mesmas folias
com que já fui soberano
de castelos e quimeras.
.
Volto a tocar a parede fria
e sinto em mim o pulso
de quem para sempre vive.
.
A morte
é o impossível abraço da água.
.
.
.
Mia Couto
.
.
.
.
.


.
.
.

.
.
.

.
.
.

 
.
.
.

 
.
.
.
Fts: Walter
.
.
.



09/10/2011

Outono

.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.

.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
Se deste outono uma folha,
.
apenas uma, se desprendesse
.
da sua cabeleira ruiva,
.
sonolenta,
.
e sobre ela a mão
.
com o azul do ar escrevesse
.
um nome, somente um nome,
.
seria o mais aéreo
.
de quantos tem a terra,
.
a terra quente e tão avara
.
de alegria.
.
.
.
Eugénio de Andrade
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.

.
.
.
.
.
.

.
.
.
.
.
.
.
.

.
.
.
.
.
.
.
.

.
.
.
.
.
.
.
.

.
.
.
.
.
.

.
.
.
.
Fts: Walter
.
.
.
.
.
.
.
.