17/04/2011

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Com a Altura da idade a Casa se Acrescenta
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Com a altura da idade a casa se acrescenta.
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Não é que aumente a quantidade ao espaço.
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Mas, sendo mais longínquos, o desapego pensa
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maior distância quando se fica a olhá-lo.
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Ou, se quiserem, uma realeza
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se instala à volta dessa altura de anos,
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de forma a que os objectos apareçam
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na luz de quase já nem os amarmos.
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Então a casa distende-se na intensa
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inteligência de estarmos
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a ver as coisas a amarem-se a si mesmas.
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Ou com a forma a difundir seu espaço.
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Fernando Echevarría, in "Figuras"
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Fts: Walter
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10/04/2011

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Tenho amigos que não sabem o quanto são meus amigos. Não percebem o amor que lhes devoto e a absoluta necessidade que tenho deles.
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A amizade é um sentimento mais nobre do que o amor, eis que permite que o objecto dela se divida em outros afetos, enquanto o amor tem intrínseco o ciúme, que não admite a rivalidade.
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E eu poderia suportar, embora não sem dor, que tivessem morrido todos os meus amores, mas
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enlouqueceria se morressem todos os meus amigos! Até mesmo aqueles que não percebem o quanto são meus amigos e o quanto minha vida depende de suas existências...
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A alguns deles não procuro, basta-me saber que existem. Esta mera condição me encoraja a seguir em frente pela vida.
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Mas, porque não os procuro com assiduidade, não posso lhes dizer o quanto gosto deles. Eles não iriam acreditar.
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Muitos deles estão lendo esta crónica e não sabem que estão incluídos na sagrada relação de meus amigos.
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Mas é delicioso que eu saiba e sinta que os adoro, embora não declare e não os procure. E às vezes, quando os procuro, noto que eles não têm noção de como me são necessários, de como são indispensáveis ao meu equilíbrio vital, porque eles fazem parte do mundo que eu, tremulamente, construí e se tornaram alicerces do meu encanto pela vida. Se um deles morrer, eu ficarei torto para um lado. Se todos eles morrerem, eu desabo!
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Por isso é que, sem que eles saibam, eu rezo pela vida deles. E me envergonho, porque essa minha prece é, em síntese, dirigida ao meu bem estar. Ela é, talvez, fruto do meu egoísmo. Por vezes, mergulho em pensamentos sobre alguns deles. Quando viajo e fico diante de lugares maravilhosos, cai-me alguma lágrima por não estarem junto de mim, compartilhando daquele prazer... Se alguma coisa me consome e me envelhece é que a roda furiosa da vida não me permite ter sempre ao meu lado, morando comigo, andando comigo, falando comigo, vivendo comigo, todos os meus amigos, e, principalmente os que só desconfiam ou talvez nunca vão saber que são meus amigos! A gente não faz amigos, reconhece-os.
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Vinicíus de Moraes
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este, é o único e singelo presente de aniversário
que tenho para te oferecer:
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a tua amada cidade de Lisboa e a minha terna e eterna amizade.
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Parabéns, meu amigo!
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Lisboa, 10 de Abril de 2o11
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fts: walter
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03/04/2011

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Acrílico S/Tela - Autor: F. Pedrosa (Walter)

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Se Eu Pudesse Trincar a Terra Toda
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Se eu pudesse trincar a terra toda
E sentir-lhe um paladar,
Seria mais feliz um momento...
Mas eu nem sempre quero ser feliz.
É preciso ser de vez em quando infeliz
Para se poder ser natural...
Nem tudo é dias de sol,
E a chuva, quando falta muito, pede-se.
Por isso tomo a infelicidade com a felicidade
Naturalmente, como quem não estranha
Que haja montanhas e planícies
E que haja rochedos e erva...
O que é preciso é ser-se natural e calmo
Na felicidade ou na infelicidade,
Sentir como quem olha,
Pensar como quem anda,
E quando se vai morrer, lembrar-se que o dia morre,
E que o poente é belo e é bela a noite que fica...
Assim é e assim seja...
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Alberto Caeiro, in "O Guardador de Rebanhos - Poema XXI"
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