21/12/2014

A VENDEDORA DE FÓSFOROS

 
 
 


 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
BOAS FESTAS
 

 
 
 
 
 
 
 
  
 
 




Fotografia de Fernando Pedrosa


23/11/2014

 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 




 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Outono
 
 
 
 
Tarde pintada
Por não sei que pintor.
Nunca vi tanta cor
Tão colorida!
Se é de morte ou de vida,
Não é comigo.
Eu, simplesmente, digo
Que há fantasia
Neste dia,
Que o mundo me parece
Vestido por ciganas adivinhas,
E que gosto de o ver, e me apetece
Ter folhas, como as vinhas.
 
 
 
Miguel Torga
 
 
 
 
 


Fotografia de Fernando Pedrosa
 
 
 

20/10/2014

Explosão de Cor e Alegria





















TH        COLOR         RUN
 
 
LEIRIA - 2014
 
 
 




































































































Aconteceu em Leiria, a 19 de Outubro de 2014


Fotografia de Fernando Pedrosa
 
 
 
 
 
 





















17/10/2014

 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Aceita o Universo
 
 
 
Aceita o universo
Como to deram os deuses.
Se os deuses te quisessem dar outro
Ter-to-iam dado.
 
Se há outras matérias e outros mundos
Haja.
 
 
Alberto Caeiro, in "Poemas Inconjuntos"
 
Heterónimo de Fernando Pessoa
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Fotografia de Fernando Pedrosa






 

11/10/2014

 
 
 
 
 
 
 

 
 
 
 
 
 
 
 
Ode ao Gato
 
 
 
 
Tu e eu temos de permeio
a rebeldia que desassossega,
a matéria compulsiva dos sentidos.
Que ninguém nos dome,
que ninguém tente
reduzir-nos ao silêncio branco da cinza,
pois nós temos fôlegos largos
de vento e de névoa
para de novo nos erguermos
e, sobre o desconsolo dos escombros,
formamos o salto
que leva à glória ou à morte,
conforme a harmonia dos astros
e a regra elementar do destino.
 
 
José Jorge Letria, in "Animália Odes aos Bichos"
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 


Fotografia de Fernando Pedrosa
 
 
 
 
 


21/09/2014

 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
« COM OS MEUS PAIS CADA VEZ MAIS ATAREFADOS e enfiados nas suas ocupações - meu pai, quando não estava de gaiola, mais tempo assentava nas tascas e outras tavolagens do que na oficina e minha mãe cada vez mais amancebada com os quatro maiorais do inferno - eu tinha toda e qualquer liberdade para fazer o que bem entendia e me apetecia, que ao desafortunado pouco vale ser esforçado.
Por vezes, e com outros comparsas que a fama entretanto me granjeara, andávamos em noctívagas pilhagens de galinhas e de fruta pelos quintais alheios, sendo o do clérigo Barroso aquele que mais gozo nos dava ir visitar. Tinha este, nas traseiras da igreja, junto da sua cela, uns belos alperceiros, sempre bem albardados, mesmo à espera de serem aliviados por uns galfarros de guloso apetite, e um ajeitado galinheiro com umas afeiçoadas frangas tão bem cevadas como as suas gorduras; uma tentação. O gozo estava em depená-lo e depois na missa ir confessá-lo ao santo padre. Isso é que era rir com as suas formosas trombas, quando nos absolvia com meia-dúzia de améns e outra tantas avé-marias. Não há pecado que não tenha remissão e ainda por cima naquela idade.
Nunca chegámos foi a perceber se ele ficava zangado com estas frutuosas arremetidas ou não, pois o único e estranho comentário que se lhe ouvia era:
-Deixai-os engordar, por Deus, melhor estarão para a matança!
- Dizia ele a meu irmão Sancho enquanto esfregava as mãos, à laia de magarefe quando vê entrar o carneiro.
Um dia porém, sem mais nem ontem, deu-lhe um trangomango, que mais tarde um físico judeu atestou ser, talvez, um mal de coração ou um ramo de ar que o acometera, e  veio ocupar o seu lugar um outro clérigo, de seu nome Junipero Capão.
Era este de má catadura, austero, muito alto e esguio, de cabeça rala, um basilisco e com um apelido que deixava algumas dúvidas no ar.
Parecia duro e carunchoso como a cruz no altar, e era tão trangalhadanças que parecia andar sempre em esconjuros e outros exorcismos. Tão malvado era e de tão malignos tremenhos que a primeira coisa que fez, ao ocupar a casa, foi talar os alperceiros por serem árvores infiéis, próprias dos mouros e outros hereges. Para guardar as galinhas, prometidas estavam ao bispo da Guarda, que apesar de fechadas a sete chaves voavam sem ele saber como, arrebanhou três podengos facínoras, piores do que Cérbero, para montar vigília.
Numa das nossas visitas, e aos primeiros conhecimentos com os raivosos, logo lhes tomámos o gosto quando se esfarelaram os fundilhos das bragas nas bocarras dos bichos, que nenhum de nós sabia tocar lira.
Tão grande foi o susto que parecia termos visto o Diabo em pessoa, ou, pelo menos, na forma de dentes. Durante muito tempo não queríamos ouvir falar de galinhas, padres ou cães, tal tinha sido o negredado confronto.
Para Sancho, entrementes, começavam dias negros, de escalavrada fome; o jejum era regra de ouro naquela casa, e piedosas penitências; pelos pecados nossos e dos outros. Os círios muito raramente se acendiam e a igreja mais parecia habitada por demoníacas trevas do que pelos iluminados espíritos do Senhor.
Contudo, um dia, sem tom nem som, meu irmão atirou-se às hóstias e ao vinho, e em sôfrega gula foi catado pelo manicurto clérigo. Quase vinha abaixo a igreja e todos os santos do altar. Enquanto o danado esbracejava, bufava e cuspia todo o género de blasfémias e outros vernáculos, menos próprios da sua condição, Sancho arrumou a trouxa e esgueirou-se célere. 
 
 
 
 
 





Quando contou em casa o que tinha acontecido e outros pretéritos casos, meu pai logo se armou da capadeira para ir resolver a afronta e emendar o canalha. Mas já não valia a pena, que o dito, afinal - soubemos mais tarde -, em outras disputas ficara despojado de tão reprodutoras ferramentas, que, diga-se, não lhe faziam falta à custa dos votos que tinha feito. Cumpria-se assim, como fateusim, o nome da família que à nascença lhe pespegaram.
Se a comida já era pouca, agora muito menos tocava a cada um. Perante tal situação e com dois filhos madraços, mandou Afonso Fernandes que cada um de nós buscasse ocupação, de forma a entrar comida em casa, que quem não trabuca não manduca, e escusado seria voltar com as mãos a abanar.
Quando parecia que a roda estava a girar a meu favor e eu já me sentia fidalgo de montarias e cetrarias, caí do cavalo para o asno e fiz-me à vida. Embora já o buço me alastrasse pelas ventas, como erva daninha, entre borbulhas e borbulhonas, isso não impediria meu pai, de me dar umas boas vergastadas, que era bem homem para isso, se me opusesse à sua vontade.
Para agravar, com a volta de Sancho, voltavam também as más vizinhanças com o meu pai, que com o tempo e com as muitas asneiras se foram esboroando. A glória já não me trazia proveito nem crédito.
Demandei pela vila a fulano, zutano, mengano e a outros perenganos, mas nada havia para um pobre e chamiço rapazola, obtuso nos práticos conhecimentos e ainda por cima com tão grande má fama.
Acabei no pelourinho a chorar a minha desdita, de mãos vazias, sem saber como voltar a casa e dizer a meu pai que nada havia encontrado.
Para mal, ou bem, dos meus pecados apareceu um mouro regatão, que ali passava com as suas azémolas, e indagou dos meus males e azares. Ao contar-lhe o sucedido, disse-me:
- Rapaz, não posso pagar-te em dinheiros, mas, enquanto estiveres a meu cargo, comida e dormida não te faltarão. Que dizes?
Arregalei-me todo e saltei para as tábuas da carroça que ia vazia, como as minhas tripas, para não perder a maré.
- Quando começo, senhor? - Não sabia se a comer, se a trabalhar.»
 
 
 
Paulo Moreiras
 
 
Excerto, do livro, «A Demanda de D. Fuas Bragatela»
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Fotografia de Fernando Pedrosa
 
 
 

05/09/2014

 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 







Em ti e em mim,
 
há um secreto jardim de rosas negras,
 
a doerem no vermelho do sangue.
 
 
Fernando Pedrosa
 
 
 
                        




 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
                                                                                

Fotografia de Fernando Pedrosa