21/06/2011

.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
era uma vez um navio
.
com saudades de aportar
.
.
.
submarino encoberto cansado de guerrear
.
veleiro sem vela nem mastro à espera da preia-mar
.
.
.
jangada de pedra vestida de ouriço e lapa
.
.
.
plataforma intergaláctica
.
poiso de rei das gaivotas
.
leito de sereia vaidosa
.
chamariz de homens incautos
.
.
.
de poetas
.
de estrelas
.
.
.
do mar
.
.
.
.
a que vem?
.
.
.
a coisa nenhuma
.
.
.
estamos
.
porque queremos estar!
.
.
.
.
.
hoje, o poeta saltou da janela de comentários...
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
Fts: Walter
.
.
.
.

08/06/2011

.
.
.
.
.
. . . . . . . . .
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
A Tempestade do Destino
.
.
.
.
.
Por vezes o destino é como uma pequena tempestade de areia
que não pára de mudar de direcção. Tu mudas de rumo, mas a
tempestade de areia vai atrás de ti. Voltas a mudar de direcção,
mas a tempestade persegue-te, seguindo no teu encalço. Isto acontece
uma vez e outra e outra, como uma espécie de dança maldita com a
morte ao amanhecer. Porquê?
Porque esta tempestade não é uma coisa que tenha surgido do nada,
sem nada que ver contigo. Esta tempestade és tu. Algo
que está dentro de ti. Por isso, só te resta deixares-te levar,
mergulhar na tempestade, fechando os olhos e tapando os ouvidos
para não deixar entrar a areia e, passo a passo,
atravessá-la de uma ponta a outra. Aqui não há lugar para o sol
nem para a lua; a orientação e a noção de tempo são coisas
que não fazem sentido. Existe apenas a areia branca e fina, como
ossos pulverizados, a rodopiar em direcção ao céu. É uma tempestade
de areia assim que deves imaginar.
(...)E não há maneira de escapar à violência da tempestade, a
essa tempestade metafísica, simbólica. Não te iludas: por mais metafísica
e simbólica que seja, rasgar-te-á a carne como mil navalhas de barba.
O sangue de muita gente correrá, e o teu juntamente com ele. Um sangue
vermelho, quente. Ficarás com as mãos cheias de sangue,
do teu sangue e do sangue dos outros.
E quando a tempestade tiver passado, mal te lembrarás de ter conseguido
atravessá-la, de ter conseguido sobreviver. Nem sequer terás a certeza
de a tormenta ter realmente chegado ao fim.
Mas uma coisa é certa. Quando saíres da tempestade já
não serás a mesma pessoa.
Só assim as tempestades fazem sentido.
.
.
.
.
Haruki Murakami, in " Kafka à Beira-Mar"
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
Fts: Walter
.
.
.
.
.