03/12/2011


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O mapa branco do cansaço dos olhos
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Eu já rezei a deuses de jade e de marfim,
em línguas que nunca poderia entender,
só para pedir pela saúde daqueles que amava.
Eu já entrei nos templos do assombro dos milénios,
viajante no labirinto dos meus mistérios,
e dei nome aos meus medos e aos meus sonhos.
Eu já tive a idade oblíqua dos penitentes
sem pátria e sem casa e cresci para além dela,
menino assustado a fingir que era homem.
Eu já cobri com linho a púrpura das minhas feridas
e defendi nas batalhas a honra das minhas damas
e nunca fui ostracizado nem queimado em efígie.
Eu fui engolido pelos ventos e devorado
pelas dúvidas no alvorecer do meu tempo atormentado.
E agora que procuro o norte no mapa branco
do cansaço dos meus olhos, o que vejo são vermes
alcandorados à condição de homem
à varanda da grandeza dos seus títulos
sem se darem conta de que são mais mortais
que as formigas que a poeira aniquila junto às bermas.
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José Jorge Letria, in "Produto Interno Lírico"
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Sou -vos grato pelo tanto que tenho recebido,
sendo tão pouco o que vos tenho dado
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Agora vou descansar... curto ou longo o descanso, será sempre um até já!
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Sempre e para sempre vosso amigo
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Fernando
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Fts: Fernando (Walter)
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06/11/2011

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Mar nosso mar
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Fímbrias de água, reentrantes,
arfar de ondas e de dunas,
trespassadas de luz
- espuma e ânsia, nossa dos dias.
Mar, espelho de nuvens
e dos luzeiros do céu,
placenta, morrente e crepuscular.
Ligação e hífen
de tudo o que ansiamos
com lágrimas reprimidas
e raivas inconfessadas.
Noite e abismo dos sonhos
- indiciados por vagos navios a perderem-se no longe
e uma teimosia, vertical, de passos
impressos na beirada.
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Luísa Dacosta, in "A maresia e o sargaço dos dias"
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Fts: Walter
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16/10/2011

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O BAIRRO DA MINHA INFÂNCIA
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Não são as criaturas que morrem.
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É o inverso:
só morrem as coisas.
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As criaturas não morrem
porque a si mesmas se fazem.
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E quem de si nasce
à eternidade se condena.
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Uma poeira de túmulo
me sufoca o passado
sempre que visito o meu velho bairro.
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A casa morreu no lugar onde nasci:
a minha infância não tem mais onde dormir.
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Mas eis que,
de um qualquer pátio,
me chegam silvestres risos
de meninos brincando.
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Riem e soletram
as mesmas folias
com que já fui soberano
de castelos e quimeras.
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Volto a tocar a parede fria
e sinto em mim o pulso
de quem para sempre vive.
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A morte
é o impossível abraço da água.
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Mia Couto
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Fts: Walter
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09/10/2011

Outono

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Se deste outono uma folha,
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apenas uma, se desprendesse
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da sua cabeleira ruiva,
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sonolenta,
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e sobre ela a mão
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com o azul do ar escrevesse
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um nome, somente um nome,
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seria o mais aéreo
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de quantos tem a terra,
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a terra quente e tão avara
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de alegria.
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Eugénio de Andrade
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Fts: Walter
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23/09/2011


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Para ti meu Amigo, uma história infinita, feita de Luz, Água e Pó.
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cenografia: Walter
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15/09/2011

sem palavras, disse...

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À minha amiga, Manuela Baptista - notável contadora de histórias
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Fts: Walter
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12/09/2011

O caso do artista-mistério


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"O mistério adensa-se e o artista-mistério
e os seus feitos começam a ser tema de conversa..."
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Saiba mais sobre este caso, aqui em "destaques"
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Por mim, que permaneça incógnito o artista-mistério,
porque a ser revelada a sua identidade, quebra-se parte deste encantamento,
a mensagem que se pretende deixar anonimamente,
e a acontecer, talvez não mais sejamos surpreendidos com as suas
espectaculares intervenções, que não agridem os locais onde cuidadosamente
são executadas, e não ofendem ninguém, a prová-lo está,
a pintura da menina triste com um ramo de flores, deixada na parede exterior
do cemitério da aldeia de Carvide junto a Monte Real, e que tem vindo
a emocionar as populações vizinhas.
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É simplesmente a minha opinião e vale o que vale!
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Fts: Walter
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28/08/2011

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Dá a quem tu amas: asas para voar, raízes para voltar
e motivos para ficar.
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Dalai Lama
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Caros amigos e comentadores:
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regressarei ao vosso convívio tão breve quanto possível,
até lá, deixo-vos com este pensamento de Dalai Lama.
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Um abraço e fiquem bem!
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Fts: Walter
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