13/11/2012

 
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Novíssimo Testamento
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Não fui eu que envelheci, juro,
foi a esperança que apodreceu em mim,
corpo desenterrado à espera da mortalha da lua
como num macilento soneto ultra-romântico.
A quem devo agradecer o bem e o mal incomensuráveis
desta vocação versejante que me fulmina?
A ninguém, talvez. Poderei agradecê-la à terra
ou à aflição martirizada de meu pai,
tombado de borco sobre os escombros da vida
quando tinha a idade que eu tenho
ao escrever estes versos destroçados por dentro,
fragilíssimos cristais do infortúnio da noite.
E as palavras de onde me chegam, quantas são,
com que intenção me visitam, com que
propósito me põem na boca tudo aquilo
que eu, por pudor, jurei nunca dizer?
Desconfiem dos poetas púdicos, sempre,
pois foram os únicos que saborearam
a nudez inclemente da morte e nunca a confessaram.
Eu não sei o que é o cansaço, nunca o soube.
Nem morto estarei cansado, porque há
um ódio surdo e lento que maquina em mim
os seus artifícios e engodos e me ensina
a não dar tréguas, a não fazer reféns.
Eu cansei-me de simular a bondade,
igual à dos santos de barro dos altares da pobreza.
O céu em que creio é um charco embaciado
onde as sombras atraiçoam outras sombras
em troca de uma vaga promessa de luz, enganadora.
Eu conheço canalhas que têm nos olhos
o remorso infinito de todas as mortes de Cristo
e que fingem pensar na aflição dos outros
enquanto gravam na pele a palavra poder.
Como posso eu acreditar em quem
não sabe, não pode e não quer acreditar em nada?
Somos estúpidamente mortais, desde sempre,
e imaginamo-nos artífices de eternidades,
ensinando aos velhos o caminho do abismo
e aos outros o que sobra da ciência dos livros.
Eu nunca hei-de descer à terra, prometo,
porque tenho medo de sujar o bibe
e de sentir os dedos nodosos da minha mãe
a deixarem-me nas pernas grossos vergões de revolta.
A minha cólera é um incêndio de Verão:
devasta, enegrece e mata, e depois
vai-se, inocente, como se nada tivesse acontecido.
Hei-de esconder-me no vento do deserto, um dia,
entre as cobras e os escaravelhos, meus irmãos,
espreitando sem pressa a solidão nocturna das raposas.
Quando quiserem saber de mim, não hesitem,
abram o livro na página que eu nunca escreverei. 

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José Jorge Letria
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Fts: Fernando Pedrosa
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17/10/2012

Passos básicos de Salsa Cubana para dançarinos trapalhões

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Viu como é, Senhor Ministro?
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Não custa aprender com quem sabe...!
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É tão fácil, quando se escuta o ritmo,
com os ouvidos do coração.
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Assim: um dois três, cinco seis sete, um dois três, cinco seis sete...
um dois três, um dois três...
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Fts: Fernando Pedrosa
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05/10/2012

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Era uma vez um país...
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Portugal, 5 de Outubro de 2012
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Fts: Fernando Pedrosa
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29/09/2012

RADICAL MOMENT

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Pestinha, então fica combinado assim: tu dizes à tua mãe que vais a um baptizado,
à minha, digo que vou a um casamento. Que tenham paciência, mal terminem as
cerimónias, estes seus adoráveis filhos correrão para visitá-las. É melhor assim,
temos que as poupar de ralações, de ais e de uis, de rezas e ladainhas o dia inteiro.
Nós, poupados seremos a mais um sermão e missa cantada.
Mas toma atenção: se regressarmos a mancar de uma perna, com a testa cheia de
de nódoas negras, ou mesmo com os dentes partidos, à tua mãe vais dizer, que te
encandeaste com a luz das velas, que ficaste todo abolachado contra o altar e um
santo te caiu em cima.
Eu ainda não pensei bem o que dizer à minha, tem que ser uma coisa bem bolada,
ela é muito desconfiada, na última que lhe contei não acreditou e mandou-me ir
"ver se chove na Barosa".
Talvez lhe diga que me enrodilhei na cauda do véu da noiva e enrodilhados os  dois,
desabamos pelas escadarias da igreja... isto mais coisa menos coisa!
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Para já ficamos assim!
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Ah p'lo sim p'lo não, leva uns pensos rápidos, um frasquinho de betadine
e o telemóvel, ok?
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Não vamos ter medo das quedas, havemos sempre de nos levantar...
medo devemos ter, de alguma coisa não aprendermos com elas.
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Do amigo, Nandinho
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Fts: Fernando Pedrosa
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18/09/2012


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OUVISTE BEM,???

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Fts: Fernando Pedrosa
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07/09/2012


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FUNDO DO MAR
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No fundo do mar há brancos pavores,
Onde as plantas são animais
E os animais são flores.
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Mundo silencioso que não atinge
A agitação das ondas.
Abrem-se rindo conchas redondas,
Baloiça o cavalo-marinho.
Um polvo avança
No desalinho
Dos seus mil braços,
Uma flor dança,
Sem ruído vibram os espaços.
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Sobre a areia o tempo poisa
Leve como um lenço.
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Mas por mais bela que seja cada coisa
Tem um monstro em si suspenso.

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Sophia de Mello Breyner Andresen
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Fts: Fernando Pedrosa
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24/06/2012

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Lembrança
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Só quero lembrar
se o tempo for todo meu.
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Só anseio lembrança
se não houver passado.
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Bruma e espuma,
apagam o tempo em que não amei.
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E eu amei
para ser tudo, todos, sempre.
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Para te visitar
esquecerei a terra
e apagarei estrelas.
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E irei pelos teus olhos,
até o mundo voltar a ter princípio.
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Sou eu, dirás.
E o tempo será lembrado.
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Mia Couto, in "Tradutor de Chuvas"
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A todos, o meu muito obrigado por tudo.
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Um obrigado especial, à Manuela Baptista, à Rufina Mesquita
e ao Paulo Intemporal,
amigos de sempre e para sempre, a quem, hoje, lhes é dedicada
esta humilde página.
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Não é um adeus!!!
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É uma rajada de vento que me empurra para dentro de mim.
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Abraço- Vos, a todos!
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Fernando
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16/06/2012

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Pensamos de Mais e Sentimos de Menos
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Queremos todos ajudar-nos uns aos outros. Os seres humanos
são assim. Queremos viver a felicidade dos outros e não a sua
infelicidade. Não queremos odiar nem desprezar ninguém.
Neste mundo há lugar para toda a gente. E a boa terra é rica e
pode prover às necessidades de todos.
O caminho da vida pode ser livre e belo, mas desviámo-nos do
caminho. A cupidez envenenou a alma humana, ergueu no
mundo barreiras de ódio, fez-nos marchar a passo de ganso
para a desgraça e a carnificina. Descobrimos a velocidade, mas
prendemo-nos demasiado a ela. A máquina que produz a
abundância empobreceu-nos. A nossa ciência tornou-nos
cínicos; a nossa inteligência, cruéis e impiedosos. Pensamos
de mais e sentimos de menos. Precisamos mais de humanidade
que de máquinas. Se temos necessidade de inteligência, temos
ainda mais necessidade de bondade e doçura. Sem estas
qualidades, a vida será violenta e tudo estará perdido.
O avião e a rádio aproximaram-nos. A própria natureza destes
inventos é um apelo à fraternidade universal, à união de todos.
Neste momento, a minha voz alcança milhões de pessoas
através do mundo, milhões de homens sem esperança, de
mulheres, de crianças, vítimas de um sistema que leva os homens
a torturar e a prender pessoas inocentes. Àqueles que podem
ouvir-me, digo: Não desesperem. A desgraça que nos oprime
não provém senão da cupidez, do azedume dos homens que têm
receio de ver a humanidade progredir. O ódio dos homens
há-de passar, e os ditadores morrem, e o poder que tiraram ao
povo, o povo retomá-lo-à. Enquanto os homens morrerem, a
liberdade não perecerá.
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Charles Chaplin, in "Discurso final de «O Grande Ditador»"
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Fotografia: Fernando
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10/06/2012

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A PEDRA SÓ É DURA E DURÁVEL
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EM CONFRONTO COM OS SERES
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HUMANOS, QUE DEVERÃO TER
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VISTO NELA O CONTRÁRIO
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DA FRAGILIDADE DA CARNE
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José Bragança de Miranda
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Fotografia: Walter
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