05/06/2010

Mãe

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Mãe!
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Vem ouvir a minha cabeça a contar histórias ricas que ainda não viajei!
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Traze tinta encarnada para escrever essas coisas! Tinta cor de sangue, sangue!
verdadeiro, encarnado!
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Mãe! Passa a tua mão pela minha casa!
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Eu ainda não fiz viagens e a minha cabeça não se lembra senão de viagens! Eu vou
viajar. Tenho sede! Eu prometo saber viajar.
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Quando voltar é para subir os degraus da tua casa, um por um.
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Eu vou aprender de cor os degraus da nossa casa. Depois venho sentar-me a teu lado.
Tu a coseres e eu a contar-te as minhas viagens, aquelas que eu viajei, tão parecidas
com as que não viajei, escritas ambas com as mesmas palavras.
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Mãe! Ata as tuas mãos às minhas e dá um nó cego muito apertado! Eu quero saber
qualquer coisa da nossa casa. Como a mesa. Eu também quero ter um feitio, um feitio
que sirva exactamente para a nossa casa, como a mesa.
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Mãe! Passa a tua mão pela minha cabeça!
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Quando passas a tua mão na minha cabeça é tudo tão verdade!
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Almada Negreiros
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in Rosa do Mundo
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fts: Walter
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A minha Mãe é assim...
creio que as vossas também assim o sejam,
exactamente como esta concha.
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. À minha e às vossas Mães .
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