18/04/2010

.
.
.
.
.
Olhando o mar, sonho sem ter de quê
.
.
.
.
Olhando o mar, sonho sem ter de quê.
Nada no mar, salvo o ser mar, se vê.
Mas de se nada ver quanto a alma sonha!
De que me servem a verdade e a fé?
.
.
.
Ver claro! Quantos, que fatais erramos,
Em ruas ou em estradas ou sob ramos,
Temos esta certeza e sempre e em tudo
Sonhamos e sonhamos e sonhamos.
.
.
.
As árvores longíquas da floresta
Parecem, por longíquas, 'star em festa.
Quanto acontece porque não se vê!
Mas do que há pouco ou não há o mesmo resta.
.
.
.
Se tive amores? Já não sei se os tive.
Quem ontem fui já hoje em mim não vive.
Bebe, que tudo é líquido e embriaga,
E a vida morre enquanto o ser revive.
.
.
.
Colhes rosas? Que colhes, se hão-de ser
Motivos coloridos de morrer?
Mas colhe rosas. Porque não colhê-las
Se te agrada e tudo é deixar de o haver?
.
.
.
. Fernando Pessoa .
.
.
.
.
.
.
.
.
.
Amigos: Até já...!
.
.
.
.
.
.
.
.
Fotos: Walter
.
.
.
.