P O R T U G A L
O que fazes tu de olhar consumido nas fímbrias do nevoeiro?
Não adormeças os teus sentidos, nem te demores na contemplação
das sombras delirantes e abstratas da esperança vã
feita irmã da ilusão.
De lá não hão-de voltar em tua salvação
os heroicos soldados sem nome e com as espadas em sangue.
Há um eco no teu peito, lamentoso e antigo, refém do teu destino
de glória ou de má sorte, a quebrar o silêncio
sagrado das esplendorosas catedrais de vidro e de oiro.
Sob as finas rendas de pó, dignamente, deixa repousar
o mistério, o desaire e o brilho e prossegue o teu caminho.
O sol ainda aqui está
a semear campos de claridade no horizonte.
Nunca deixou de te moldar ondas de bravura e caravelas no rosto
e nem o vento parou de te apontar um caminho novo.
Fernando Pedrosa