26/02/2011

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Se às Vezes Digo que as Flores Sorriem

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Se às vezes digo que as flores sorriem

E se eu disser que os rios cantam,

Não é porque eu julgue que há sorrisos nas flores

E cantos no correr dos rios...

É porque assim faço mais sentir aos homens falsos

A existência verdadeiramente real das flores e dos rios.

Porque escrevo para eles me lerem sacrifico-me às vezes

À sua estupidez de sentidos...

Não concordo comigo mas absolvo-me,

Porque só sou essa cousa séria, um intérprete da Natureza,

Porque há homens que não percebem a sua linguagem,

Por ela não ser linguagem nenhuma.

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Alberto Caeiro, in " O Guardador de Rebanhos - Poema XXXI"

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fts: walter

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Meus amigos
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aprendam o sorriso da flor e o cantar do rio!
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com um sorriso largo e um abraço saudoso, digo-vos um ATÉ JÁ!
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19/02/2011

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Título: As vozes - Técnica mista s/tela - Autor: F. Pedrosa (Walter)
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Benditas sejam as histórias
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Benditas sejam as histórias do princípio de tudo
porque são limpas e são puras como o mel
e como a água que a palavra perfeita converte
em leite ou em espuma na boca atónita dos crentes.
Benditas sejam, para sempre, as histórias
que me fizeram acreditar na bondade dos homens
antes que a vida me tivesse conduzido
ao mais absoluto e inapelável desengano.
Eu já tive a idade das histórias que ouvia contar,
das que viviam fora dos livros,
das que corporizavam no ar os duendes e as fadas,
das que me faziam acreditar que podia ser eterno
como os príncipes entronizados no cume das lendas,
belos como cascatas refrescando a erva.
Benditas sejam, para sempre, as histórias,
mesmo as que ninguém me chegou a contar,
mas que eu inventei com o fascinado engenho
de uma infância debruada a ouro nos esconderijos
da fala que silêncio algum ousou vencer.
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José Jorge Letria, in "Produto Interno Lírico"
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Dedicadamente
a todos os contadores de histórias
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10/02/2011

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... Acrílico s/tela - Autor: F. Pedrosa

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Da Minha Aldeia
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Da minha aldeia vejo quanto da terra se pode ver no Universo...
Por isso a minha aldeia é grande como outra qualquer
Porque eu sou do tamanho do que vejo
E não do tamanho da minha altura...
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Nas cidades a vida é mais pequena
Que aqui na minha casa no cimo deste outeiro.
Nas cidades as grandes casas fecham a vista à chave,
Escondem o horizonte, empurram o nosso olhar para longe do céu,
Tornam-nos pequenos porque nos tiram o que os nossos olhos nos podem dar,
E tornam-nos pobres porque a única riqueza é ver.
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Alberto Caeiro, in "O guardador de Rebanhos"
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